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Imagem: Reprodução |
Doutor em segurança de trânsito, é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília e presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito (IST).
Imagem: Pacto nacional pela Redução de acidente |
Preocupado com índices econômicos, superavit primário, taxas de juros e metas de inflação, o governo brasileiro parece não perceber a tragédiaque impera nas nossas ruas e estradas. A mortandade no trânsito não sensibiliza. São chamados “acidentes”, como se fossem fruto do acaso. Geralmente o governo põe a culpa na vítima imprudente ou no condutor irresponsável, eximindo-se de suas obrigações na segurança viária. Sem qualquer programa de combate à epidemia, conivente com a calamidade, assiste impávido o crescimento galopante dos desastres.
Não é assim em outros países, que valorizam a vida e marcham no sentido inverso. Nos Estados Unidos, o número de mortes no trânsito em 2012 foi menor que em 1949; no ano passado, a Bélgica teve o menor número de mortos no trânsito de sua história; em oito anos, a Espanha reduziu as
estatísticas da tragédia em 60%.
Esses países investem na engenharia viária e automotiva, promovem o respeito aos mais vulneráveis por meio da educação de trânsito, utilizam tecnologia avançada para fiscalizar e evitar conflitos no trânsito e aplicam duramente a lei aos infratores. Cada “acidente” é exaustivamente estudado, tomam-se medidas para que eventos similares não se repitam. Os profissionais de trânsito têm formação técnica apurada, há um “plano estratégico” para consecução dos objetivos de redução da violência no trânsito.
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No Brasil, vamos de mal a pior. Quase duas décadas depois da promulgação, o Código de Trânsito Brasileiro é ignorado e desrespeitado pelo governo e pelos cidadãos. As consequências não poderiam ser piores. O DPVAT pagou 60 mil indenizações por morte e 350 mil por invalidez permanente no ano passado. Os dados mais recentes mostram um avanço anual de 6% nas mortes e de 47% nas indenizações por invalidez permanente. Nos últimos 10 anos, morreram quase meio milhão de pessoas no trânsito brasileiro e 10 milhões foram feridas. Dessas, 3 milhões ficaram com lesões irreversíveis, grande parte estão hoje em cadeiras de rodas. A maioria era jovem, gozava de plena saúde.
Imagem: Governo Federal |
- O governo federal deve liderar os governos estaduais e municipais nas medidas de redução das mortes e feridos graves no trânsito. A sociedade deve participar e ser corresponsável;
- Promover estudos para entender o fenômeno, saber quais fatores estão presentes nas colisões, que circunstâncias são “acidentógenas”. Um diagnóstico benfeito é garantia de tratamento eficaz;
- Promover o investimento na formação de especialistas em segurança de trânsito. Eles serão os “médicos” para combater a epidemia;
- Incentivar boas práticas consagradas em todo mundo: uso do cinto de segurança, moderação da velocidade em áreas urbanas, combate ao álcool e ao uso do celular ao volante, cuidados com itens de segurança dos veículos, dar instruções de segurança aos pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas;
- Estabelecer metas claras e plausíveis. Avaliar permanentemente as ações.
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Sem computar a dor das família e o sofrimento das vítimas, os desastres no trânsito custam à sociedade R$ 50 bilhões por ano. Em quatro anos, aplicando 1% desse valor na segurança de trânsito é possível reduzir em 40% o número de mortos e feridos graves, poupando R$ 20 bilhões. Não há investimento melhor. Poderíamos começar com os R$ 3 bilhões que o Denatran tem hoje em caixa. Antes que eles se transformem em superavit primário.
Publicado originalmente em Clipping Seleção de Notícias