Por Márcia Pontes
Educadora de Trânsito
Bom dia, leitores do blog. Satisfação imensa em poder colaborar de alguma forma comentando e formando opinião junto com vocês sobre os principais assuntos relacionados ao trânsito da nossa cidade.
Fiquem à vontade para comentar e exporem seus pontos de vista.
São
229 atropelamentos desde o primeiro dia do ano até o momento em que
comecei a escrever esse artigo. Ou seja, são 229 vidas humanas, pessoas
que estavam circulando em algum ponto da cidade e entraram em rota de
colisão com algum tipo de veículo.
Foto: Jornal de Santa Catarina |
Entre
2003 e 2011 Blumenau gastou 1,7 bilhão custeando atendimento de
acidentes de trânsito, e quanto gastamos em prevenção? Em ações
educativas e preventivas para evitar os atropelamentos e outros tipos de
acidentes?
Quer
dizer que para investirem prevenção não sobra nada, mas para recolher
os corpos das vítimas que seguem para o hospital ou para a funerária
tem?
Muitos
morreram nesses atropelamentos e, de quem ficou, muitos se tornaram ou
se tornarão usuários de serviços específicos do sistema público de saúde
para tratamentos longos e prolongados que vão desde múltiplas
cirurgias, curativos, fisioterapia, reabilitação, atendimento
psicológico, colocação de órteses e próteses ou mesmo recebimento de
outros benefícios como fraldas para adultos, atendimento domiciliar,
dentre outros. Esses custos não estão incluídos nos R$1,7 bilhão, viu
gente!
Trabalhei
durante 1 ano no Ambulatório Geral da Velha e diariamente convivia com
pacientes acidentados de trânsito. Um dos casos mais emblemáticos foi o
de um rapaz atropelado em cima da faixa por uma motocicleta e que para o
resto da vida vai levar essas marcas no corpo e na alma.
Ia completar 1 ano do acidente e esse rapaz ainda tem fraturas pelo corpo, acreditam?
Também
conheço um senhor de quase 60 anos que vive hoje em estado vegetativo
depois de ser atropelado por um ônibus e bater fortemente a cabeça no
parabrisas.
Quando
se fala em acidente de trânsito, sobretudo atropelamentos, a memória
fica curta, as pessoas só lembram do momento do acidente. Choca quem
passou pelo local e viu a cena ou quem é parente, amigo, vizinho do
acidentado.
Quem
convive com o acidentado de trânsito no dia a dia, quem dá comida na
boca, quem troca as fraldas, quem faz a higiene pessoal como se fosse a
de um bebê, esse sim, sofre na pele as consequências de um
atropelamento.
Esquecem-se de contabilizar o custo social dos acidentes, mas também o custo para o município.
Em
audiência, em uma reunião de trabalho semana passada na Assembléia
Legislativa de Santa Catarina (ALESC) fui pedir socorro e ao apresentar
alguns números sobre o que Blumenau gastou em atendimentos a acidentes
de trânsito entre 2003 e 2011. Os
parlamentares ficaram assustados. Afinal, estávamos falando de um valor
parecido com aquele pago em prêmios de loteria: R$ 1,7 bilhão.
Essa soma
bilionária que sai dos cofres de Blumenau e, consequentemente, do bolso
dos blumenauenses, à época, dava para renovar a frota de transporte
coletivo da cidade em 6.662 ônibus ou construir 1.765 Centros de
Educação Infantil (CEIs).
Fico pensando a quem realmente preocupa essa situação e, se preocupa tanto, porquê não fazem nada para mudar?
É
muito fácil enxugarem gelo e dizer que a culpa é do pedestre que se
atira sobre a faixa ou do motorista mal educado que não respeita o
pedestre. Mas, será que o poder público está fazendo mesmo a sua parte,
está cumprindo com aquilo que deve fazer enquanto órgão executivo de
trânsito?
Vão esperar que se conscientizem de uma hora para outra?
Blitz
resolve na hora, multa "conscientiza" na hora em que se mexe no bolso,
mas e a ação estrutural, preventiva, combinada as ações de fiscalização?
Dizem que campanha de trânsito não resolve nada, mas todo mundo cobra quando ela não existe.
Para
neutralizar aquele discurso antigo de que falta dinheiro, de que não se
faz nada sem dinheiro, cabe lembrar que o município tem sim uma
estrutura que se fosse bem articulada para um trabalho integrado,
sistêmico, poderia ser bem aproveitada.
Estamos
falando de milhões de reais em verbas federais paradas no Ministério
das Cidades por falta de bons projetos para o trânsito e a mobilidade
urbana, e acima de tudo humana, nas cidades.
Estamos
falando de uma política pública séria para o trânsito, que mobilize
parcerias, secretarias de governo, profissionais que já estão na
prefeitura, lideranças comunitárias, CONSEG’s, associações de moradores,
terceiro setor, sociedade organizada, mídia para ajudar a transmitir as
mensagens educativas de trânsito.
Estamos
falando de muitos profissionais sérios, dispostos a se engajar nesse
processo, mas que ainda não se manifestaram porque não viram iniciativa!
E
para quem se arrisca a dizer que sou mais uma corneteira em meio a
tantos ou que sou da turma do contra, digo que sou apenas uma cidadã
blumenauense que não se conforma com essa anodinia que se instala, com
esse “lascia stare” ou deixa estar enquanto centenas de vidas são
atropeladas no trânsito de Blumenau diariamente.
Na
minha condição de cidadã e de educadora de trânsito estou fazendo a
minha parte, começando por não me conformar.
Será que Blumenau está
fazendo mesmo a sua parte como município integrado ao Sistema Nacional
de Trânsito no que tange às ações educativas e preventivas de acidentes?
Se existem dificuldades, por favor, nos informem, nos digam claramente quais são porque não temos informações claras sobre isso.
O
que nos impede de iniciarmos um programa-compromisso de Humanização do
Trânsito em nível de gestão, estrutural, nessa cidade além da falta de
dinheiro?
Anunciaram as lombadas eletrônicas para o ano que vem, mas nesse "pacote" não se mencionou nada em ações educativas e preventivas que incluam os estímulos adequados e a abordagem com a população não escolar.
Lembrando que os 4 pilares do trânsito seguro são: engenharia/ergonomia, fiscalização, educação e ações preventivas, e aprendizagem de comportamentos seguros e defensivos no trânsito.
Por favor, precisamos mais do que contar os mortos e feridos!