300x250 AD TOP

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Encontrado em: ,

Trânsito - Para compreender os idosos no trânsito

Por Márcia Pontes


A morte de dona Hella Borges, 75 anos, depois de sofrer um acidente de trânsito ao bater na mureta da ponte e se precipitar do Ribeirão da Velha logo após a Praça do Estudante, na Rua 7 de Setembro chama à atenção para a necessidade de compreendermos os idosos no trânsito.

Foto: Patrick Rodrigues / JSC
Um comentário que li na rede sobre este acidente em que seu autor diz que já viu pessoas idosas fazendo cada coisa no trânsito também justifica essa postagem.

Vivemos num país que, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), tem cerca de 13 milhões de idosos habilitados, número que vem aumentando junto com a explosão na venda de automóveis, da melhoria da qualidade e da expectativa de vida. Só em São Paulo, temos 5 motoristas que renovaram a habilitação com mais de 100 anos.

Em 2050 os idosos chegarão a 2 bilhões de pessoas no mundo, o que corresponde a 20% da população total do globo e muitos deles ainda estarão dirigindo.

Já dizia Gabriel García Márquez que a idade não é aquela que a gente tem, mas a que a gente sente. Só que a gente também sente o peso da cidade que se manifesta em atividades diárias como a de dirigir. Mas, isso não significa que idosos não possam dirigir como as outras pessoas, afinal, tem muito mais motoristas na flor da idade que se acidentam, ferem, machucam, matam mais do que os idosos no trânsito.


Imagem: Reprodução
Quem diz que o idoso no trânsito atrapalha ignora duas coisas bem importantes: que os idosos tem características específicas e que um dia (se tiver a sorte de continuar vivendo) também será idoso e clamará pelo mesmo respeito e dignidade dos idosos de hoje.

Compreendendo uns aos outros na vida e no trânsito é possível vivermos pacificamente.

Um estudo feito em São Paulo sobre os principais fatores envolvidos em acidentes de trânsito com idosos relacionou: doenças pulmonares e cardiovasculares; doença cardíaca isquêmica; arritmias; apnéia do sono; Diabetes Mellitus; doenças neurológicas; AVC; Alzheimer; Parkinson; Neuropatias; Convulsões; Artrites e uso de remédios controlados ou não.

O fato é que o idoso no trânsito como pedestre tende a ser mais lento: os passos não são tão rápidos, a audição é prejudicada, o campo visual, a percepção de profundidade, distância e velocidade também diminui. Quem sabe seja esse o motivo pelo qual muitos idosos sejam atropelados em cima da faixa de pedestres ou na travessia de corredores de ônibus.

Há outras complicações naturais que vem junto com a idade e que implicam na segurança do idoso no trânsito como pedestre ou motorista. A catarata causa diminuição global da visão e leva gradualmente à cegueira; o glaucoma afeta a visão lateral. Hipertensão e diabetes também causam perda no campo visual do idoso e podem fazer com que ele não enxergue um carro que se aproxime pela lateral ou tenha mais dificuldades para manobrar o veículo.

Imagem: Reprodução
A retinose pigmentaria dificulta a acomodação entre o claro e o escuro e causa uma sensação de cegueira temporária na saídas de túneis e no lusco fusco, aquele período de final de tarde, quando começa a escurecer. Como a percepção visual é fundamental ao motorista, quando comprometida aumenta em até 3 vezes o risco de acidentes.

O Mal de Parkinson ainda não descoberto ou em tratamento é outro complicador para o motorista idoso devido ao comprometimento neurológico que afeta a coordenação motora. Braços e pernas ficam extremamente pesados e em alguns casos a pessoa perde o controle voluntário de abertura e fechamento de pálpebras.

Convulsões causadas por quadros secundários ao AVC, a hipoglicemia ou hiperglicemia de pacientes diabéticos (não só os idosos) podem causar uma verdadeira tragédia o trânsito, pois quando não controlados por hábitos e estilo de vida regrados, podem levar à fadiga, à letargia e lentidão.

Muitos idosos tem perda das funções cognitivas que evoluem para a demência, lapsos frequentes de memória e dores causadas por artroses e artrites que podem deixar os movimentos e reflexos mais lentos, causando insegurança ou dificuldades para dirigir.

É certo que o idoso não é o único que toma remédios controlados, não é o único que sofre com o diabetes, mas, devido às complicações trazidas pela idade eles estão mais propensos a sofrerem acidentes.

Em relação aos remédios prescritos com frequência na velhice, muitos deles causam sonolência, confusão mental, tonturas, lapsos de memória, torpor e outras sensações e efeitos colaterais que comprometem o ato de dirigir com segurança.

No Brasil, a partir dos 65 anos todo motorista passa a renovar a CNH de 3 em 3 anos mediante aprovação nos exames de avaliação médica e psicológica. Dependendo dos resultados desses exames, o tempo de renovação pode diminuir.

Mas é necessário que a família e a sociedade compreendam e apoiem o idoso em todas as suas decisões, inclusive a decisão de continuar dirigindo ou não.

Familiares de dona Hella disseram que ela teve um mal súbito enquanto dirigia, desmaiou ao volante, perdeu o controle do carro e se precipitou no ribeirão. Ela até chegou falando no hospital, mas morreu na sala de emergência.

Imagem: Reprodução
Meu objetivo ao escrever este artigo não é o de questionar se os idosos devem ou não parar de dirigir, mesmo porque o idoso não é inválido, não é cidadão de segunda categoria. Porque o idoso é uma população que vem crescendo nos últimos anos e também porque aquele que tiver a benção de continuar vivo será também um idoso daqui há alguns anos.

Minha intenção é a de trazer informações, tentar alertar sobre o que parecerá óbvio para alguns. Mas, também, por uma questão de respeito aos mais velhos e de exercício da cidadania, contribuir de alguma forma para que as pessoas compreendam não só os motivos da mobilidade reduzida do idoso no trânsito, mas para que se sensibilizem e os respeitem com a dignidade que eles merecem.

Ao se deparar com um idoso no trânsito pense em tudo o que leu neste artigo. Não buzine, não xingue, não apresse, não deboche. Se tiver a sorte de estar vivo, será o motorista e o pedestre idoso de amanhã.