Por Márcia Pontes
Está
aí uma boa pergunta e a sugestão para que se faça uma pesquisa nesse
sentido. Por que? Porque os agentes de trânsito, também referidos pela
população como guardas, exercem um papel fundamental no dia a dia, seja
fiscalizando, orientando o trânsito em horário de pico e participando
das ações educativas e preventivas de trânsito, dentre outras.
Mas,
embora Blumenau tenha a primeira guarda municipal de trânsito do país,
existente desde a década de 1940, mas oficializada somente em 1955,
muitos motoristas parecem não ter do que se orgulhar e isso é ruim.
O
agente de trânsito é aquele cara que faz falta quando o interesse é do
próprio motorista, mas vira desafeto ou persona non grata quando exerce o
dever de ofício e autua o infrator. Exemplos?
Basta
estar preso no meio do trânsito lento ou parado em alguns pontos da
cidade para os motoristas se perguntarem: “Cadê o guarda?”. Se envolveu
num acidente de trânsito, ligou para a Guarda Municipal e está
demorando? “Mas, que demora desses guardas!”.
Viu motorista estacionado na calçada ou trafegando na ciclofaixa? “Mas, cadê esses guardas que não veem uma coisa dessas?”
Mas,
aí, o mesmo motorista que sente a falta do agente de trânsito em
situações específicas é o mesmo que vai criticar o efetivo que coloca os
cones de manhã cedo na Rua João Pessoa para organizar e tentar dar mais
fluidez ao trânsito. E logo vem a pergunta: “Precisa de tanto guarda
junto prá colocar meia dúzia de cones no meio da rua?”
Todo
motorista sabe que estacionar o veículo numa vaga preferencial ou na
vaga destinada à ele em estacionamento rotativo sem o cartão incorre no
risco de autuação, mas vai lá, teima, aposta na impunidade, estaciona, é
autuado e ainda xinga o guarda.
Há
quem relate supostos casos de truculência e cara feia dos agentes, assim
como há agentes de trânsito que relatam casos de afronta e desrespeito
por parte de motoristas e assim todo mundo segue a vida como se fossem
inimigos.
Na
década de 1970 o agente de trânsito Luiz Gonzaga, que trabalhava na
Praça Ramos de Azevedo, em São Paulo, ficou famoso e eternizou a imagem
do guarda cidadão, tratando à todos, motoristas e pedestres, com
simpatia, respeito, civilidade e o amor ao próximo. Fez história. A
mesma história que vem sendo feita pelo agente de trânsito Jobson
Meireles, no Espírito Santo.
Ele
aparece num vídeo que circula pelas redes sociais e inclusive foi
premiado pela conduta considerada por muitos como exemplar ao orientar
condutores e pedestres com simpatia, bom humor e gentileza.
Mas,
também está dando o que falar e está sendo criticado e até acusado por
alguns de prevaricação pelo fato de não autuar os motoristas que cometem
infrações tais como: não usarem o cinto de segurança, motociclista com
viseira aberta, motorista que dirige falando ao celular e dirigir sem as
duas mãos ao volante.
Como
realizo um trabalho de Educação Para o Trânsito online (EPTon) desde
2008, já me deparei com comentários do tipo: “Porquê os guardas de
trânsito de Blumenau não são assim? Porquê não seguem o exemplo?”
Mas,
também já me deparei com comentários de outros motoristas e até agentes
de trânsito considerando a conduta do guarda por deixar de fazer o que
deveria ter feito, ou seja, autuar o condutor infrator.
Polêmicas
à parte, tem coisas no mesmo vídeo que não levam à interpretação de
prevaricação e soam bem simpáticas, tais como orientar o pedestre a
atravessar na faixa, orientar o ciclista a desmontar da bike e
empurrá-la na travessia da rua, cumprimentar os pedestres e elogiar os
motoristas que fazem a coisa certa. Sinceramente, coisas que não
costumamos ver nas atitudes dos nossos agentes de trânsito aqui em
Blumenau.
Há
os que são mais simpáticos, com ares de bonachões quando caminham pela
Rua XV e até esboçam um sorriso, mas sempre endereçado aos conhecidos.
Sorrir para um pedestre, pedir que ele atravesse na faixa de segurança,
orientar o ciclista a desmontar da bike e empurrá-la na travessia isso
eu nunca vi. Muito menos naquele trecho em frente ao Shopping Neumarkt,
na Rua 7 de Setembro, em que os pedestres insistem em arriscar a vida de
forma perigosa em meio aos carros.
Seria
interessante aplicar uma pesquisa com a população para saber o que as
pessoas, pedestres, ciclistas e motoristas, pensam sobre os agentes e
sobre a Guarda Municipal de Trânsito. Tenho certeza que as respostas
seriam reveladoras e apontariam necessidades conhecidas e até
desconhecidas da população em relação ao trabalho, à postura, à
gentileza ou falta dela por parte dos agentes.
O
que torna diferenciado o trabalho do agente de trânsito no vídeo que
demonstra gentileza não é a prevaricação ou deixar de fazer o que deve
ser feito, mas sim, o tratamento humanizado aos pedestres e condutores.
Partindo
da ideia de que gentileza gera gentileza em qualquer aspecto da vida e,
sobretudo, no trânsito, espera-se que a pessoa que recebeu a gentileza a
multiplique. Em sua fala o agente de trânsito do Espírito Santo diz que
não é o trânsito que educa as pessoas, mas as pessoas é que levam a
gentileza e a educação que tem para o trânsito.
Ao
abordar as pessoas com leveza, sem truculência, com dignidade e com
respeito sem deixar de fiscalizar e de autuar, o agente de trânsito
passa a ser bem visto e bem quisto pela sociedade e consegue obter de
pedestres e condutores o feedback, a aproximação necessária para as
parcerias em ações educativas e preventivas de trânsito. Isso, quando o
nosso município resolver fazer campanhas educativas e preventivas que
envolvam também a população não escolar, é claro.