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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

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Literatura - A Tríade Distópica - Parte 1: “1984”

Por Rafael Alexander Marghotti

Segundo o Dicio, dicionário online de língua portuguesa, a definição de distopia é “local imaginário, circunstância hipotética, em que se vive situações desesperadoras, com excesso de opressão ou de perda; antiutopia. Quaisquer demonstrações ou definições de uma associação social futura, definida por circunstâncias de vida intoleráveis, cujo propósito seria analisar de maneira crítica as características da sociedade atual; além de ridicularizar utopias, chamando atenção para seus males; antiutopia”.
Poster do Grande Irmão
Imagem: Reprodução
Se você procurar em qualquer lista que eleja os maiores clássicos literários do século XX, com certeza encontrará pelo menos um dos três livros conhecidos como a “Tríade Distópica”, são eles:

“1984” de George Orwell
“Laranja Mecânica” de Anthony Burgess
“Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley

Não há nenhuma relação direta entre essas obras, foram escritos por autores diferentes e em épocas diferentes, mas as metáforas sociais e antropológicas unidas ao tema distópico e até mesmo profético fazem desses livros leitura obrigatória. Esta publicação ficaria muito extensa se eu ousasse falar sobre os 3 livros ao mesmo tempo, por isso, iniciarei uma série de publicações sobre cada um deles, começando por aquela que julgo conter a crítica mais impactante.


1984

Capa da Ed. Brasileira
Imagem: Reprodução
Ao contrário do que Pedro Bial dá a entender ao apresentar o Big Brother, a origem do nome do programa não vem da suposta amizade que se forma entre os “brothers” que participam desse programa medíocre, mas é uma clara referência ao Big Brother, ou Grande Irmão de 1984. No romance de George Orwell, acompanhamos o protagonista Winston Smith em sua jornada dentro de uma sociedade totalitária, completamente dominada pelo estado, sob a vigilância constante do Grande Irmão, o olho que tudo vê, presente em locais públicos, organizações e principalmente na casa das pessoas, por meio das teletelas, dispositivos que captam e transmitem som e imagem o tempo inteiro. O Grande Irmão é o rosto do partido, estampando em praticamente todo lugar, uma personificação perfeita do poder, temido e amado.


Mapa Político de 1984
Imagem: Reprodução

Winston Smith vive num país chamado Oceânia, formado pelo que no passado já fora as Américas, o Reino Unido e a Oceania, esse estado está em constante guerra com a Lestásia ou com a Eurásia, ora um ora outro, pelo controle das terras disputadas, mas de acordo com o partido, a Oceânia sempre teve o mesmo inimigo e o mesmo aliado. Confuso? Pois é, quem controla o presente, controla o passado, e quem controla o passado controla o futuro. Winston é justamente um funcionário do Ministério da Verdade, sua responsabilidade é apagar e recriar registros históricos para que o passado tenha sempre sido de interesse do partido e o partido esteja sempre certo manter a verdade dos registros históricos. Além do Ministério da Verdade, responsável pela mentira pelas notícias, entretenimento, educação e belas-artes; existe o Ministério da Paz, responsável pela guerra por manter a paz do estado contra seu inimigo; o Ministério da Pujança, responsável por manter a escassez pelas questões econômicas; e finalmente, o meu preferido, o Ministério do Amor, responsável pela tortura por manter a lei e a ordem. Além disso, também há os três slogans do partido:

Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força

Logo do IngSoc / Socing
Imagem: Reprodução

Contraditório? Essa é justamente a base do EngSoc ou Socing (na tradução brasileira), novafala para Socialismo Inglês, o sistema de governo da Oceânia, cujo cerne é o duplipensamento, que nada mais seria do que a capacidade de manter duas ideias opostas em um único conceito e acreditar nas duas simultaneamente, se isso for do interesse do partido, obviamente. A novafala é um novo idioma que vem sendo desenvolvido, que ao contrário de todas as outras línguas, cujo vocabulário aumenta com o passar do tempo, a novafala diminui a existência das palavras por meio de junções de dois ou mais vocábulos, na maioria das vezes de ideias paradoxais, com vistas a facilitar a implantação do duplipensamento. Dessa forma, as pessoas conseguiriam dizer uma mentira e acreditar nela ao mesmo tempo, saber que algo existe e negar a sua existência, mas não apenas da boca para fora, saber no seu âmago que aquilo é verdade. Se o partido lhe mostrar uma mão com quatro dedos e disser que existem cinco, você não pode apenas dizer que há cinco dedos lá, precisa vê-los de fato.


Imagem: Reprodução

Como toda distopia, ou até mesmo nas utopias, há alguém que por algum motivo na se encaixa naquela sociedade perfeita, Winston Smith foi a pessoa que tomou a pílula vermelha e seguiu adiante para descobrir até onde se estendia a toca do coelho. Não darei detalhes sobre a trama para não estragar a experiência de quem ainda não leu o livro, mas posso apenas afirmar que tanto a jornada, como o desfecho são desconcertantes.

O romance foi publicado em 1948, criando esse futuro distópico no então longínquo ano de 1984. Na época de sua publicação, o livro foi tido como uma crítica aos regimes nazistas e facistas entre os europeus, os americanos entenderam como uma sátira ao regime comunista da União Soviética, mas será que era só isso mesmo? Manipulação de informações, controle de pensamentos, perda da privacidade, vigilância constante, alienação do indivíduo e manutenção do poder pelo mesmo grupo, será que tudo isso ficou restrito a uma ficção futurista que já foi ultrapassada?