Por Rafael Alexander Marghotti
Segundo o Dicio, dicionário online de língua
portuguesa, a definição de distopia é “local
imaginário, circunstância hipotética, em que se vive situações desesperadoras,
com excesso de opressão ou de perda; antiutopia. Quaisquer demonstrações ou
definições de uma associação social futura, definida por circunstâncias de vida
intoleráveis, cujo propósito seria analisar de maneira crítica as características
da sociedade atual; além de ridicularizar utopias, chamando atenção para seus
males; antiutopia”.
Poster do Grande Irmão Imagem: Reprodução |
“1984” de George Orwell
“Laranja Mecânica” de Anthony Burgess
“Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley
Não há nenhuma relação direta entre essas obras,
foram escritos por autores diferentes e em épocas diferentes, mas as metáforas
sociais e antropológicas unidas ao tema distópico e até mesmo profético fazem
desses livros leitura obrigatória. Esta publicação ficaria muito extensa se eu
ousasse falar sobre os 3 livros ao mesmo tempo, por isso, iniciarei uma série
de publicações sobre cada um deles, começando por aquela que julgo conter a
crítica mais impactante.
1984
Capa da Ed. Brasileira Imagem: Reprodução |
Mapa Político de 1984 Imagem: Reprodução |
Winston Smith vive num país chamado Oceânia,
formado pelo que no passado já fora as Américas, o Reino Unido e a Oceania,
esse estado está em constante guerra com a Lestásia ou com a Eurásia, ora um
ora outro, pelo controle das terras disputadas, mas de acordo com o partido, a
Oceânia sempre teve o mesmo inimigo e o mesmo aliado. Confuso? Pois é, quem
controla o presente, controla o passado, e quem controla o passado controla o
futuro. Winston é justamente um funcionário do Ministério da Verdade, sua
responsabilidade é apagar e recriar registros históricos para que o passado
tenha sempre sido de interesse do partido e o partido esteja sempre certo manter a verdade dos registros históricos. Além do Ministério da Verdade,
responsável pela mentira pelas notícias, entretenimento, educação e
belas-artes; existe o Ministério da Paz, responsável pela guerra por manter a paz do
estado contra seu inimigo; o Ministério da Pujança, responsável por manter a escassez
pelas questões econômicas; e finalmente, o meu preferido, o Ministério do Amor,
responsável pela tortura por manter a lei e a ordem. Além disso, também há os
três slogans do partido:
Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força
Contraditório? Essa é justamente a base do EngSoc
ou Socing (na tradução brasileira), novafala para Socialismo Inglês, o sistema
de governo da Oceânia, cujo cerne é o duplipensamento, que nada mais seria do
que a capacidade de manter duas ideias opostas em um único conceito e acreditar
nas duas simultaneamente, se isso for do interesse do partido, obviamente. A novafala é um
novo idioma que vem sendo desenvolvido, que ao contrário de todas as outras
línguas, cujo vocabulário aumenta com o passar do tempo, a novafala diminui a
existência das palavras por meio de junções de dois ou mais vocábulos, na
maioria das vezes de ideias paradoxais, com vistas a facilitar a implantação do
duplipensamento. Dessa forma, as pessoas conseguiriam dizer uma mentira e
acreditar nela ao mesmo tempo, saber que algo existe e negar a sua existência,
mas não apenas da boca para fora, saber no seu âmago que aquilo é verdade. Se o
partido lhe mostrar uma mão com quatro dedos e disser que existem cinco, você
não pode apenas dizer que há cinco dedos lá, precisa vê-los de fato.
Imagem: Reprodução |
Como toda distopia, ou até mesmo nas utopias, há
alguém que por algum motivo na se encaixa naquela sociedade perfeita, Winston
Smith foi a pessoa que tomou a pílula vermelha e seguiu adiante para descobrir
até onde se estendia a toca do coelho. Não darei detalhes sobre a trama para
não estragar a experiência de quem ainda não leu o livro, mas posso apenas
afirmar que tanto a jornada, como o desfecho são desconcertantes.
O romance foi publicado em 1948, criando esse
futuro distópico no então longínquo ano de 1984. Na época de sua publicação, o
livro foi tido como uma crítica aos regimes nazistas e facistas entre os
europeus, os americanos entenderam como uma sátira ao regime comunista da União
Soviética, mas será que era só isso mesmo? Manipulação de informações, controle
de pensamentos, perda da privacidade, vigilância constante, alienação do
indivíduo e manutenção do poder pelo mesmo grupo, será que tudo isso ficou restrito
a uma ficção futurista que já foi ultrapassada?