Por Márcia Pontes
Você conhece alguém que tenha se envolvido e sofrido um acidente de trânsito? Um amigo, um parente distante, um colega de trabalho, de faculdade ou mesmo um familiar mais próximo?
Você conhece alguém que tenha se envolvido e sofrido um acidente de trânsito? Um amigo, um parente distante, um colega de trabalho, de faculdade ou mesmo um familiar mais próximo?
Em
Brasília, será realizado ato solene no Pavilhão de Exposições do Parque
da Cidade neste terceiro domingo de novembro (17/11) com lançamento da Pedra Fundamental do Primeiro Memorial Nacional em Memória das Vítimas Brasileiras no trânsito.
Foto: Portal G1 |
Anualmente,
a cada terceiro domingo de novembro, é realizado o Dia Mundial em
memória das vítimas de acidentes de trânsito. A data foi criada em 1993
pelo Road Peace, na Inglaterra. Em 2005 a Assembléia Geral das
Nações Unidas, do qual o Brasil é signatário, publicou a Resolução nº
60, designando o terceiro domingo de novembro para estimular a
conscientização mundial com relação ao tema e tentar sensibilizar a
comunidade mundial para a importância da segurança no trânsito.
O
Brasil é país signatário da ONU, Blumenau fica no Brasil (embora muitos
ainda não tenham se dado conta disso), mas parece que vivemos num
universo paralelo ao dos acidentes de trânsito.
Nunca
tivemos um evento para lembrarmos com respeito dos nossos mortos em
acidentes de trânsito. No ano passado a iniciativa de falar sobre o
assunto foi da mídia quase que exclusivamente e esse ano, pela falta de
informações ou de divulgação, parece que mais uma vez os mortos e os
familiares das vítimas em acidentes de trânsito cairão no esquecimento.
Blumenau
ainda não tem uma política pública séria voltada para o trânsito, que
inclua estudos antes de tomar decisões importantes que afetarão a vida
das pessoas no trânsito. E quando falo de política pública falo de um
compromisso assumido pela cidade com as pessoas e a vida no trânsito.
Imagem: Reprodução |
Eu
falo de uma política pública feita de parcerias com as lideranças
comunitárias, com as associações de moradores, com os familiares de
vítimas mortas em acidentes de trânsito, com as próprias vítimas
sobreviventes (as mutiladas, as feridas para o resto da vida). Parceria
com a mídia, com as empresas, com o terceiro setor, porque é assim que
se faz política pública.
É
claro que quando falta essa mobilização, essa tentativa de diálogo e de
buscar soluções conjuntas com a sociedade a desculpa vai ser a mesma:
de que falta dinheiro para fazer uma campanha de 30 segundos na tevê em
horário nobre, de que falta dinheiro para isso, para aquilo, enfim... só
vai ter dificuldades mesmo. E parece que quando se trata de trânsito em
nossa cidade a busca é mais pelas dificuldades do que pelas soluções.
Blumenau
tem bons programas que atendem as crianças nas escolas, mas a população
não escolar que faz o trânsito no dia a dia é esquecida, está de fora. É
onde a criança aprende na escola que deve atravessar na faixa, mas o
adulto que a conduz sai arrastando pelo braço em meio aos carros. E se a
criança tenta abrir a boca para transmitir aos pais o que aprendeu na
escola e tentar sensibilizá-los ouve aquele “cala a boca e corre que o
carro tá vindo”.
Imagem: Reprodução |
Enquanto
as pessoas forem só números, estatísticas, estaremos muito longe da
humanização de que o ser humano e o trânsito tanto precisam.
Para
a maioria, é só mais um José, um João, uma Maria, um Rafael ou Gabriel
que morreu, que ficou ferido, mutilado e inválido num acidente. Até que
essa vítima passa a ser um amigo, um parente, uma pessoa da família.
Trânsito
é comportamento, trânsito é feito por pessoas e para as pessoas (ou
deveria ser) e isso significa que o problema e a solução estão nas mãos e
no comportamento de cada um.
Educação
no trânsito se faz com humanização e humanizar é reconhecer que somos
humanos e que a nossa missão, também no trânsito, é cuidar uns dos
outros. A minha vida tem o mesmo valor que a vida do outro.
A
Oktoberfest mal acabou e já tem cartaz pronto para a festa do ano que
vem. Já se discute os investimentos, as melhorias físicas, estruturais,
os novos paladares de cervejas e tantas outras coisas. Mas, para o
trânsito e para as ações educativas e preventivas de trânsito, é das
duas uma: ou não tem dinheiro ou não tem interesse.
Imagem: Reprodução |
Mas,
a diferença maior não é que a Oktoberfest traz lucros e outras
vantagens para Blumenau enquanto as ações educativas e preventivas de
trânsito não dão o mesmo tipo de retorno. Mas sim, a inversão de valores
em que qualquer outra prioridade ficou mais importante do que a
preservação da vida.
Não vai ser de estranhar se a data em memória das vítimas de acidentes de trânsito passar em branco em Blumenau novamente.