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sábado, 15 de fevereiro de 2014

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Trânsito - Qual a solução para a Rua Bahia?

Por Márcia Pontes / Educadora de Trânsito
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Imagem: Reprodução
Não existe fórmula mágica ou receita pronta para resolver os principais problemas do trânsito na Rua Bahia e em toda a cidade. E olha que são muitos, e as consequências, quase sempre trágicas: acidentes que resultam em mortes violentas, em tratamentos longos e dolorosos para quem sobrevive e um poder público que não se sabe que tipo de dificuldades está tendo, se técnicas ou políticas.

O fato é que os perigos na Rua Bahia são muitos e grande parte deles provocados pelos próprios motoristas e pedestres em função dos comportamentos de risco que assumem, mas também por questões de engenharia/ergonomia e por falta de uma política pública específica para o trânsito que inclua a população nas ações preventivas e educativas.

A velocidade limitada para a via é de 60km/h, mas bastam alguns minutos observando o tráfego por ali para constatar que são poucos os que respeitam. Entre o limite com a cidade de Indaial e a usina do Salto a pista é duplicada e a sensação que se tem é de que se está numa pista de corrida e não numa via pública.

Imagem: Reprodução
Mas, não é só nesse trecho da Rua Bahia que se corre demais: ao longo dos seus 9km de extensão é comum se ver carros de todos os tipos, anos, modelos e tamanhos acima da velocidade permitida, desde os mais novos até os mais idade incluindo caminhões e carretas.

Muitos motociclistas também não perdoam e passam com o zunido provocado pelo excesso de velocidade e pela falta de manutenção preventiva dos veículos como se fosse uma varejeira gigante. Outro ruído bastante conhecido de quem mora às margens da Rua Bahia é o som seco da batida de uma moto em outros veículos ou em postes.


Os pedestres fazem verdadeiros malabarismos para atravessar a pista em meio aos carros em alta velocidade, inclusive idosos e crianças, os que têm mais dificuldade para perceber a aproximação de veículos em movimento.

Imagem: Reprodução
Há quem reclame das falhas no asfalto, principalmente quando chove e fazem aumentar as rachaduras, buracos e fissuras, potencializando ainda mais o risco de acidentes e prejuízos até para quem tem cuidado ao trafegar pela Rua Bahia.

É claro que a via tem que estar em condições de tráfego seguras, mas essa não é a única solução, pois se já abusam da velocidade com o asfalto desse jeito, imaginem com pista lisinha, sem falhas. Um indicativo de que o comportamento dos motoristas pesa, e muito, para o risco de acidentes.

Em vários trechos a sinalização horizontal está apagada, desgastada e sumindo devido ao volume de tráfego diário. Já as faixas de pedestres estão cada vez menos visíveis, quase apagadas, inexistentes, por falta de manutenção e repintura.

Problema crônico nas cidades brasileiras que cresceram mal planejadas e que não é exclusividade de Blumenau (mas, também não é desculpa) são as condições das calçadas sem acessibilidade. Mães que mandam seus filhos para a escola sem saber se eles voltam para casa inteiros, pois falta calçada na maior extensão da via e até passeios públicos em muitos trechos, o que obriga as crianças a terem de passar pela via pública sentindo o vento dos carros. Em dias de chuva a situação piora e a apreensão aumenta.

Ao longo do dia a Rua Bahia se transforma num dos maiores pontos de lentidão e num imenso gargalo em suas principais transversais e acessos a outros pontos da cidade. Aquele trecho da Ponte do Salto nem se fala! Acesso à Rua Benjamim Constant? Haja paciência!

Imagem: Reprodução
O próprio desenho da Rua Bahia em alguns pontos complica ainda mais porque há estreitamento de pista, o volume de carros é grande e os caminhões têm dificuldades para fazer manobras nas curvas fechadas em pontos estreitos.

Para piorar tudo isso, o comportamento de alguns motoristas faz com que a Rua Bahia e suas transversais representem um perigo mesmo quando estão vazias, sem tráfego. Exemplos disso são os últimos registros de acidentes graves com mortes: na madrugada, quando poucos carros trafegam e a Rua Bahia está praticamente vazia, envolvendo excesso de confiança, imprudência e velocidade.

É de se pensar nessa importante rua de ligação com os bairros e cidades o tempo todo, e ainda mais com a conclusão do Complexo do Badenfurt, muito festejado pelos políticos, mas que causam apreensão na comunidade. O fato é que se continuar desse jeito que está a situação vai piorar e muito e não teremos o que festejar.

O que se tem de oficial é que a Rua Bahia foi incluída no PAC Mobilidade, mas até que esse pacote saia do papel com a promessa de alargamento de pista, construção de canteiros centrais, calçadas e ciclovias o problema vai continuar sem previsão de ser resolvido.

A Rua Bahia hoje causa a mesma preocupação que a BR-470, salvaguardadas as devidas proporções.


Sabemos que um trânsito seguro se faz com Engenharia/Ergonomia, Fiscalização e Educação Para o Trânsito e que é um grande equívoco se pensar que todos os problemas vão se resolver só com engenharia, com asfalto bom e sinalização bem pintada ou colocada.

Imagem: Reprodução
Os problemas são estruturais e precisam ser tratados de forma estrutural, integrada, com ações sistêmicas. Não temos dinheiro para mexer na Rua Bahia, alargar a pista, pintar, sinalizar, cuidar dela como deveria. Tá, mas e daí? Vai ficar assim? Até quando? Quantos acidentes mais vão ter que continuar sendo provocados? Quantas pessoas mais vão ter que morrer?

As faixas de pedestres elevadas tem sido apontadas por moradores e lideranças comunitárias como provável solução, ainda que não tenham sido regulamentadas pelo CONTRAN e que muitas cidades brasileiras a venham implantando mesmo assim.

Até a fiscalização para uma cidade com mais de 300 mil habitantes é feita com malabarismos tentando cobrir os muitos pontos críticos de toda Blumenau e sem sequer um radar móvel que faça doer no bolso dos infratores contumazes o peso da imprudência.

Em termos de ações preventivas e educativas de trânsito que envolvam toda a população e especialmente quem mora e trafega pela Rua Bahia isso também não se tem e não se faz. Há quem encare isso como crítica, outros como fato.

Será que o problema todo está mesmo na falta de dinheiro? Será que se todos se mobilizassem de forma ativa e efetiva, moradores, pedestres, motoristas, ciclistas, lideranças comunitárias e políticas, não iríamos além do discurso?

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Será que tudo se reduz à análise de que a culpa é dos motoristas que correm demais ou do pedestre que não tomou cuidado ao atravessar a rua nas condições em que ela está?

Está lá no art. 23 da Constituição Federal a competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e de Blumenau, que afinal é um município: “estabelecer e implantar política de educação para a segurança no trânsito”. E isso não inclui só a educação escolar, mas a educação como um todo, que seja parte dos 3 E’s de um trânsito seguro: engenharia, fiscalização e educação de todas as pessoas em via pública.

Blumenau completará 164 anos e até hoje não tem uma política pública para o trânsito. Enquanto isso a população faz o que pode: protestar e pedir de pires na mão por segurança.