Por Márcia Pontes / Educadora de Trânsito
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O fato é que os perigos na Rua Bahia são muitos e grande parte deles provocados pelos próprios motoristas e pedestres em função dos comportamentos de risco que assumem, mas também por questões de engenharia/ergonomia e por falta de uma política pública específica para o trânsito que inclua a população nas ações preventivas e educativas.
A velocidade limitada para a via é de 60km/h, mas bastam alguns minutos observando o tráfego por ali para constatar que são poucos os que respeitam. Entre o limite com a cidade de Indaial e a usina do Salto a pista é duplicada e a sensação que se tem é de que se está numa pista de corrida e não numa via pública.
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Muitos motociclistas também não perdoam e passam com o zunido provocado pelo excesso de velocidade e pela falta de manutenção preventiva dos veículos como se fosse uma varejeira gigante. Outro ruído bastante conhecido de quem mora às margens da Rua Bahia é o som seco da batida de uma moto em outros veículos ou em postes.
Os pedestres fazem verdadeiros malabarismos para atravessar a pista em meio aos carros em alta velocidade, inclusive idosos e crianças, os que têm mais dificuldade para perceber a aproximação de veículos em movimento.
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É claro que a via tem que estar em condições de tráfego seguras, mas essa não é a única solução, pois se já abusam da velocidade com o asfalto desse jeito, imaginem com pista lisinha, sem falhas. Um indicativo de que o comportamento dos motoristas pesa, e muito, para o risco de acidentes.
Em vários trechos a sinalização horizontal está apagada, desgastada e sumindo devido ao volume de tráfego diário. Já as faixas de pedestres estão cada vez menos visíveis, quase apagadas, inexistentes, por falta de manutenção e repintura.
Problema crônico nas cidades brasileiras que cresceram mal planejadas e que não é exclusividade de Blumenau (mas, também não é desculpa) são as condições das calçadas sem acessibilidade. Mães que mandam seus filhos para a escola sem saber se eles voltam para casa inteiros, pois falta calçada na maior extensão da via e até passeios públicos em muitos trechos, o que obriga as crianças a terem de passar pela via pública sentindo o vento dos carros. Em dias de chuva a situação piora e a apreensão aumenta.
Ao longo do dia a Rua Bahia se transforma num dos maiores pontos de lentidão e num imenso gargalo em suas principais transversais e acessos a outros pontos da cidade. Aquele trecho da Ponte do Salto nem se fala! Acesso à Rua Benjamim Constant? Haja paciência!
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Para piorar tudo isso, o comportamento de alguns motoristas faz com que a Rua Bahia e suas transversais representem um perigo mesmo quando estão vazias, sem tráfego. Exemplos disso são os últimos registros de acidentes graves com mortes: na madrugada, quando poucos carros trafegam e a Rua Bahia está praticamente vazia, envolvendo excesso de confiança, imprudência e velocidade.
É de se pensar nessa importante rua de ligação com os bairros e cidades o tempo todo, e ainda mais com a conclusão do Complexo do Badenfurt, muito festejado pelos políticos, mas que causam apreensão na comunidade. O fato é que se continuar desse jeito que está a situação vai piorar e muito e não teremos o que festejar.
O que se tem de oficial é que a Rua Bahia foi incluída no PAC Mobilidade, mas até que esse pacote saia do papel com a promessa de alargamento de pista, construção de canteiros centrais, calçadas e ciclovias o problema vai continuar sem previsão de ser resolvido.
A Rua Bahia hoje causa a mesma preocupação que a BR-470, salvaguardadas as devidas proporções.
Sabemos que um trânsito seguro se faz com Engenharia/Ergonomia, Fiscalização e Educação Para o Trânsito e que é um grande equívoco se pensar que todos os problemas vão se resolver só com engenharia, com asfalto bom e sinalização bem pintada ou colocada.
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As faixas de pedestres elevadas tem sido apontadas por moradores e lideranças comunitárias como provável solução, ainda que não tenham sido regulamentadas pelo CONTRAN e que muitas cidades brasileiras a venham implantando mesmo assim.
Até a fiscalização para uma cidade com mais de 300 mil habitantes é feita com malabarismos tentando cobrir os muitos pontos críticos de toda Blumenau e sem sequer um radar móvel que faça doer no bolso dos infratores contumazes o peso da imprudência.
Em termos de ações preventivas e educativas de trânsito que envolvam toda a população e especialmente quem mora e trafega pela Rua Bahia isso também não se tem e não se faz. Há quem encare isso como crítica, outros como fato.
Será que o problema todo está mesmo na falta de dinheiro? Será que se todos se mobilizassem de forma ativa e efetiva, moradores, pedestres, motoristas, ciclistas, lideranças comunitárias e políticas, não iríamos além do discurso?
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Está lá no art. 23 da Constituição Federal a competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e de Blumenau, que afinal é um município: “estabelecer e implantar política de educação para a segurança no trânsito”. E isso não inclui só a educação escolar, mas a educação como um todo, que seja parte dos 3 E’s de um trânsito seguro: engenharia, fiscalização e educação de todas as pessoas em via pública.
Blumenau completará 164 anos e até hoje não tem uma política pública para o trânsito. Enquanto isso a população faz o que pode: protestar e pedir de pires na mão por segurança.