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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

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Astronomia - Pálido Ponto Azul

Por Jael Jaime Rainert

Em 14 de fevereiro de 1990, a sonda espacial Voyager 1, tirou fotografias dos planetas visitados, e em uma delas, estava a terra, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, fazendo nosso planeta parecer um "pálido ponto azul".
Isso inspirou Carl Sagan a criar seu livro, intitulado "Pálido ponto azul". Em uma conferência Sagan falou de seus pensamentos sobre a imagem, que nos faz refletir sobre nossas vidas nessa pequena casa, que é o planeta terra.
                                         
Nossa casa, vista a 6,4 bilhões de quilômetros
Imagem: Divulgação

"A nave espacial estava muito longe de casa. Pensei que seria uma boa ideia, logo depois de Saturno, fazê-la olhar para casa uma última vez. De Saturno, a Terra surgiria demasiado pequena para que a Voyager pudesse captar qualquer detalhe. O nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um pixel solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager podia captar: planetas vizinhos, sóis distantes.


Mas precisamente devido à obscuridade do nosso mundo assim revelada, poderia valer a pena ter uma foto dessas. Fora bem entendido pelos cientistas e filósofos da Antiguidade Clássica que a Terra era um mero ponto num vasto e abrangente Cosmos, mas ainda ninguém a vira assim. Era a nossa primeira oportunidade – e talvez a única, nas décadas que se seguiriam.

Portanto… Aqui está: um mosaico quadriculado estendido sobre os planetas e um fundo salpicado de estrelas distantes. Por causa do reflexo da luz do Sol na nave, a Terra parece repousar num raio de luz, como se existisse um significado especial neste pequeno mundo… Mas é apenas um acidente de geometria e ótica.

Não há nenhum sinal de humanos nesta foto – das nossas modificações na superfície do planeta, das nossas máquinas, de nós próprios. Deste ponto de vista, a nossa obsessão com o nacionalismo não aparece evidenciada em lado nenhum. Somos demasiado pequenos. Na escala dos mundos, os humanos são inconsequentes – uma fina película de luz num obscuro e solitário pedaço de rocha e metal.

Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.

A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.

As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.

A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.

Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido."


Também, confira a ótima versão narrada pelo dublador Guilherme Briggs: