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Um dia
depois da charge publicada na mídia em que duas aranhas conversavam e uma dizia
à outra que estava sumida porque tinha mudado para dentro das máquinas que
trabalhavam na BR-470, mais um acidente grave. Estamos na primeira semana de
2014 e esta é a terceira morte na rodovia, no mesmo trecho que ano passado
vitimou 90 pessoas. Desde 2000 foram 1.471 mortes.
Imagem: Reprodução |
Mas, ele
não era só o irmão do prefeito de Blumenau. Caio era administrador, deixa o
filho de 8 anos e a esposa, que ele tinha ido recepcionar cheio de saudade no
aeroporto de Navegantes. Caio era pai, era marido, era filho, era irmão e
agora, mais uma vida que se foi no trânsito.
Caio era mais
um condutor dentre milhões que dirigem pela saturada BR-470, principal rodovia
que escoa algo em torno de 40% da produção do Vale do Itajaí e municípios
vizinhos e não comporta mais tanto tráfego. Tragicamente, agora ele entrou para
as mesmas estatísticas que alertam que 5 pessoas morrem por hora no Brasil em
acidentes de trânsito.
Imagem: Reprodução |
Mas, como
em outras épocas, de novo vimos o fogo de palha se apagando. As primeiras
máquinas que roncavam às margens da rodovia silenciaram. As famílias que moram
próximas nem se preocupam mais tanto com as marcações em suas casas e
propriedades anunciando que em breve teriam de sair dali para a rodovia ser
duplicada.
A ordem de serviço dos lotes 2 e
4, entre Gaspar e Indaial, outro trecho perigosíssimo e que já ceifou muitas
vidas, já foi assinada, mas as obras continuam sem prazo para começar. O trecho
1, entre Navegantes e Ilhota, ficou na mesma e nem a ordem de serviço foi
assinada.
Tudo está parado há quase 6 meses
e a promessa de que a ordem de serviço seria assinada em 31 de dezembro não se
cumpriu. Sumiram os políticos que se diziam um pouco os pais da criança e aqueles
que ofereceram a duplicação da BR-470 como um presente para o Vale e suas
famílias.
Só não sumiu, só não passou a dor
de quem perdeu seus entes queridos em acidentes de trânsito naquela que já foi
batizada como a “rodovia da morte”.
Imagem: Reprodução |
Costumam-se ouvir duas coisas que já se tornaram clichê no que se refere às mortes violentas em acidentes de trânsito, sobretudo como este que tirou a vida do irmão do prefeito Napoleão Bernardes. A primeira, é de que a rodovia não mata ninguém, quem mata são os motoristas que por nela trafegam. E, neste ponto, tem muita gente que não concorda que a BR-470 seja referida como a “rodovia da morte”.
O fato é que embora as rodovias
não matem ninguém, as condições da via são apenas um dos 3 fatores
determinantes para os acidentes de trânsito: o homem, a via e o veículo. Bons
motoristas com bons comportamentos em vias inadequadas e saturadas também
morrem.
O outro clichê, tão doloroso de
mencionar num momento tão delicado como este (e me desculpo pelo mal necessário),
é de que precisa morrer alguém da família de algum político para que se comece
a fazer alguma coisa, a acelerar o que precisa ser feito.
Na verdade, não deveria ter de morrer ninguém primeiro para que se começasse a
acelerar alguma obra em qualquer via pública que seja. Não deveria morrer o
filho de ninguém, o pai de ninguém, o amor da vida de ninguém para que uma
rodovia fosse duplicada.
O
trânsito não poupa ninguém e já passou da hora da sociedade organizada em todos
os setores começar a se mexer. Não podemos esperar e nem deixar que mais
pessoas morram para que a duplicação da BR-470 saia do papel e do discurso
inflamado dos políticos.
A perda
de vidas humanas não deve ser expectativa ou garantia de nada. Não interessa se
é o “seu João”, a Dona Maria ou o irmão do prefeito, do deputado ou do
governador. Estamos falando de pessoas, de vidas que estão indo embora cedo
demais, de forma violenta demais e isso será sempre um preço alto demais para
todos nós.
Meus
sentimentos em memória e em respeito à todas as vítimas de acidentes de
trânsito e suas famílias, sobretudo ao prefeito Napoleão Bernardes, que sentiu
pela segunda vez a dor insuportável de perder familiares em acidente de
trânsito. Seu pai, o jurista Acácio Bernardes, morreu num acidente de trânsito
em 1996 na BR-101. É dor demais, é sofrimento demais para as vítimas e as famílias.
Deus nos
conforte à todos e nos dê forças para seguir em frente e transformar o luto em
luta por um trânsito mais humano e seguro.
“Dói de
tanto medir a distância saber que não vou te tocar além da lembrança” (Beto
Guedes).