As lombadas eletrônicas e os radares móveis já estão
funcionando e autuando. Só em um dia de operação, o radar móvel flagrou 350
condutores cometendo infrações, a maioria por excesso de velocidade. Também não
vai demorar muito para que o tal discurso de indústria da multa comece a ser
difundido. Só ao longo de 2013 o Seterb arrecadou com multas, mais de 6 milhões
de reais. Isso mesmo: exatos R$ 6.439,189,00. Parece prêmio de loteria? Mas,
não é!
Foto: Reprodução. |
Mas, cuidado! Antes de começar a xingar e a disparar o discurso
de indústria da multa, pense se você não foi um desses condutores infratores
que estacionou onde não devia, ou que sabia que tinha que colocar o cartão da
área azul no painel do veículo e não o fez por teimosia ou por crença na
impunidade.
Pense bem se você não foi um daqueles motoristas
apressadinhos, que acelerou demais; que ultrapassou em local proibido; que
furou um semáforo; que falou ao celular enquanto dirigia; ou se não foi o
condutor que bebeu e foi dirigir, dentre outras infrações que deveria conhecer
e não praticar.
Não é muito difícil de entender essa questão vivendo em uma
cidade como Blumenau, cheia de indústrias. Pare de fornecer matéria-prima para
uma indústria para ver como ela quebra rapidinho! Então, se existe indústria da
multa é porque existe o condutor matéria-prima, o que gera motivos e infrações
para ser autuado. E pelo tanto de infrações que se flagra e se publica em rede
social, olha que ainda se autua pouco!
É aquela coisa: passa em uma curva a 40km/h ou na velocidade
estipulada para a via que você não capota, não cai em ribeirão, não sobe
calçada e nem bate em poste. Ou aprenda com os 10 motoristas centenários de São
Paulo, que dirigem há mais de 70 anos e nunca foram multados nem causaram
acidentes. E olha que eles vêm acompanhando a evolução do trânsito há muito
mais tempo que a maioria de nós!
Para onde vai o dinheiro da multa?
Ok, meu caro motorista infrator: já que você constatou os
milhões que ajudou o município a arrecadar com as suas infrações e mau
comportamento em via pública, já que ganhou os parabéns, agora precisa saber
para onde foi o seu rico dinheirinho. Vamos lá!
No ano de 2013, o Seterb arrecadou com multas de trânsito o
exato valor de R$ 6.439.189,42. Destes, R$ 954.255,00 foram para o convênio
entre Polícia Militar e Polícia Civil. Dos R$ 5.484,933,44 restantes, causa
espanto que somente R$ 2.970,00 tenha sido destinado à Escola Pública de
Trânsito. Só de despesas com Correios, para fazer com que a Notificação de
Infração de Trânsito chegasse aí na comodidade do seu lar por carta registrada,
foram gastos R$ 758 mil
Dos mais de 6 milhões arrecadados em multa de trânsito, R$
3.456.000,00 foi o total gasto pelo Seterb, acrescentando aos custos anteriores
o material de fardamento dos agentes, para sinalização de trânsito e pagamento
de aluguel da antiga sede. O que teria sido um superávit de R$ 2.000.028,00 foi
destinado para pagar dívidas da gestão anterior. Ou seja, os recursos
empenhados no recurso de multa foram pagos com recursos próprios, gerando um déficit
contábil que precisou ser coberto pela atual gestão.
No início de 2014 houve vereador questionando, apresentando
números em emissora de rádio e prometendo que o assunto seria debatido no
Legislativo. Ouça a entrevista neste link. Entrei em contato, mas ainda não obtive informações sobre o desdobramento dessa
questão.
Bom esclarecer que o CTB determina que o dinheiro arrecadado com
multas só pode ser investido em sinalização, engenharia, fiscalização e
educação de trânsito:
Art. 320. A receita arrecadada com a cobrança das multas de
trânsito será aplicada, exclusivamente, em sinalização, engenharia de tráfego,
de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito.
Parágrafo único. O percentual de cinco por cento do valor das
multas de trânsito arrecadadas será depositado, mensalmente, na conta de fundo
de âmbito nacional destinado à segurança e educação de trânsito.
Não é verdade que os agentes de qualquer que seja a
autoridade de trânsito ganhem comissões por quantidades ou montantes de multas
aplicadas como se diz por aí.
Há, ainda a Portaria 407 do DENATRAN, que vincula a
utilização da receita arrecada com multas para a sinalização, engenharia de
tráfego e de campo, policiamento e fiscalização (fardamento dos agentes,
equipamentos, etc.) e em educação de trânsito. Assim, o que quanto mais se
arrecada, mais se investe na manutenção do próprio sistema.
Mas, será que a Escola Pública de Trânsito, pela importante
missão que tem em ações educativas e preventivas, não mereceria mais do que
míseros R$ 2.970,00 destes quase R$ 6,5 milhões arrecadados? Será que assim,
não se conseguiria ampliar o foco dos trabalhos que já vêm sendo
realizados? Será que não sobra dinheiro
suficiente? Ou está faltando alguma coisa?
Será que com estes mais de R$ 6 milhões arrecadados em multas
não se conseguiria implantar uma política pública para o trânsito em Blumenau?
Vejam só a informação do comando do Corpo de Bombeiros no
início do ano: a corporação que foi criada para apagar incêndios, atende em 57%
de todas as ocorrências, as vítimas de acidentes de trânsito.
Também era estimativa de um médico plantonista do Hospital
Santo Antônio que, de cada 20 entradas de ambulância do setor de emergência, 15
transportavam acidentados no trânsito e 80% deles eram motociclistas.
Temos ruas em Blumenau, como a Gustavo Zimmermann, que em 8
anos registrou 5 mil ocorrências de acidentes de trânsito, e o que foi feito
nesta e em outras ruas para tentar averiguar a causa do problema e intervir
para evitar a acidentalidade?
Será que já não passou da hora de Blumenau ter o seu Plano de
Humanização do Trânsito como parte de uma política pública séria, executável e
sustentável voltada para a prevenção de acidentes, como assim determina o CTB
em seu capítulo 6?
Considerando todos os custos causados por acidente de
trânsito, dentre eles: custo associado às pessoas, custo da perda de produção,
custo dos cuidados em saúde, custo das vias e ao meio ambiente e custos
institucionais, os custos pré-hospitalares (de resgate), os custos hospitalares
e pós-hospitalares, custos de remoção e translado, custos associados aos danos
a veículos, custo de perda da carga, com remoção ao pátio, custos dos danos à
propriedade pública e privada, qual o tamanho do prejuízo para Blumenau?
Sou a favor de fiscalização, mas só fiscalização não basta!
Temos que saber o que fazer com as estatísticas, ir no local, averiguar, fazer
estudos e identificar as outras causas e fatores concorrentes para o acidente e
intervir pontualmente para eliminar essas causas, como requer o art. 24, inciso
IV.
Sou a favor de autuação para quem infringe leis de trânsito,
até porque o acidente é a infração que não deu certo. Sou a favor de lombadas
eletrônicas para quem precisa de lombadas eletrônicas e de radar móvel
flagrando e autuando quem pensa que é o dono da rua e que está acima das leis
de trânsito.
Mas, acima de tudo, sou a favor e continuarei lutando
incansavelmente por políticas públicas sérias, executáveis e sustentáveis,
voltadas para a segurança das pessoas no trânsito. Políticas públicas que sejam
feitas em parceria e participação ativa da sociedade organizada.
Quase R$ 6,5 milhões arrecadados em multas em 2013. Uma
espécie de vaquinha feita pelos motoristas infratores. E agora, com as lombadas
eletrônicas e radares móveis? Quanto mais cifras os motoristas matéria-prima
vão gerar? Ou será que vão sentir no bolso?
Foto: Jaime Batista - http://jaimebatistadasilva.blogspot.com.br/ |