Já
sabemos que o número de acidentes chegou a dobrar na rua João Pessoa
(220% em abril) e que atingiu o pico de 22 ocorrências no mês do Maio
Amarelo. Mas, de nada adiantam números se não se informar a população
usuária daquela via onde estão os pontos mais críticos para que redobrem
os autocuidados.
Primeiramente,
gostaria de esclarecer que não trabalho na prefeitura ou no Seterb e
que não tenho qualquer vínculo empregatício com órgãos públicos ou com
os gestores do trânsito na cidade. Sou educadora de trânsito,
profissional liberal, tenho formação em Segurança no Trânsito e a
responsabilidade de fazer educação para o trânsito com responsabilidade
social. É um trabalho de doação, voluntário mesmo como parte do meu
compromisso profissional e existencial com a segurança das pessoas no
trânsito. Faço questão de explicar para que não restem dúvidas.
Acidentes
de trânsito não são só números e pessoas não são estatísticas. Estamos
falando aqui de vidas humanas, muitas já perdidas em acidentes
provocados por diversos fatores. Diariamente, pedestres, ciclistas,
motoristas e outros usuários da via estão expostos a riscos de
atropelamentos, colisões, abalroamentos e outros tipos de acidentes.
O
objetivo deste artigo é informar sobre os pontos críticos onde foram
registradas mais ocorrências ao longo da Rua João Pessoa. Ao saber os
pontos onde mais se bate em carro parado, quem sabe o condutor pense
duas vezes se vai deixar o veículo estacionado naquele local.
Saber
onde mais se registram colisões frontais, traseiras, atropelamentos e
abalroamentos pode ser uma dica valiosa para redobrar os cuidados quando
se caminha, pedala ou trafega pela Rua João Pessoa. Por isso, a partir
da base de dados públicos no Portal da Transparência da prefeitura foi
feito o levantamento dos acidentes por tipo; os dados foram lançados no
Google Maps e georreferenciados. Os pontos críticos foram aqueles que
mais se destacaram entre trechos específicos da via.
Atropelamentos
- Altura do número 1.425 – Próximo ao Posto de Gasolina no acesso à Vila Germânica
- Altura do número 2.344 – Próximo à Clínica Veterinária Biobichos
- Altura do número 2.660 – Próximo à Quanta Coisa/Entrada para Vasto Verde
- Altura do número 3.200 – Próximo ao Banco do Brasil
- Altura do número 3.258 – Próximo ao Trevo do Tomio
Colisão frontal
- Altura dos números 2.029 e 2.050 – Próximo ao Bradesco
- Altura do número 2.269 – Próximo ao Colégio Adolpho Konder
- Altura do número 2.345 – Próximo à Clínica Veterinária Biobichos
- Altura do número 2.603 – em frente à Quanta Coisa
- Altura do número 3.177 – Próximo ao Trevo do Tomio
Choque contra poste
- Altura entre os números 1.858 e 2.121 – Entre Quanta Coisa e Bradesco
Abalroamentos (Transversal e Longitudinal)
- Altura dos números 1 ao 97 – Da Blupel até o cruzamento com a rua 7 de Setembro
- Altura dos números 1.858 ao 2.121 – Da Quanta Coisa até o Bradesco
- Altura dos números 2.400 ao 2.650 – Da Clínica Biobichos até a Caixa
- Altura dos números 2.870 ao 3.200 – Saída do Trevo do Tomio até o Bradesco
Bater em carro parado
Tecnicamente,
trata-se do choque, o tipo de acidente em que o condutor não consegue
manter o veículo na via e “bate” contra objetos fixos. Neste caso,
considerou-se apenas os locais onde se mais bate em carro parado. Uma
dica para quem costuma estacionar próximo a estes locais.
- Altura do número 2.905 ao 3.177 – Coremma até Trevo do Tomio
- Altura do número 1.701 ao 1.504– Cruzamento João Pessoa com Marechal Deodoro até acesso ao Morro da Cia Hering
- Altura do nº 444 ao nº 1 – Próximo ao Angeloni até trevo com a Rua 7 de Setembro
Alguns
pontos específicos se destacaram nas análises como, por exemplo, os
choques contra carros parados tanto na curva quanto em retas, o que pode
ser um indicativo de abuso da velocidade ao ponto de o condutor não
conseguir controlar os veículos.
No
que se refere aos abalroamentos transversais, típicos de quem sai de um
cruzamento com pressa ou sem dar seta, quando se georreferencia as
ocorrências no mapa, constata-se que muitos não foram provocados
especificamente em cruzamentos, mas sim, em conversões.
Como
são 3 faixas, duas em um sentido e uma em outro, o condutor tem
dificuldades para convergir atravessando duas faixas. Trocando em miúdos
fica assim: dos dois condutores que trafegam no mesmo sentido, um dá a
vez, o outro não e é onde se provoca o abalroamento transversal ou
colisão lateral. Aliás, este é o mesmo problema enfrentado pelo
pedestre: um condutor dá a vez e o outro não, mesmo com o pedestre
atravessando em cima da faixa de segurança.
Em
relação aos ciclistas (e tem muita gente antipática à estes usuários da
via), a situação fica pior: embora o art. 201 do CTB determine que o
condutor deva ultrapassar o ciclista a 1,5 metros de distância, com a
terceira faixa na João Pessoa a pista de rolamento ficou estreita demais
e para não cometer esta infração, o condutor tem que cometer outra
pior: avançar sobre a linha contínua dupla e invadir a pista contrária.
Uma constatação de que não é só o comportamento do motorista o que mais
causa acidentes na João Pessoa, mas também o traçado da via em alguns
pontos que deixa o condutor sem alternativa para fazer a sua parte.
Os
ônibus, camionetas e caminhonetes são largos e ocupam quase todo o
espaço da faixa em que trafegam, deixando o ciclista sem opção: ou toma
buzinada e é xingado para sair da frente do ônibus e dos outros veículos
ou pára a bike e pedala pela calçada. Ou seja, ou toma “fina” de
veículos ou “tira fina” dos pedestres.
Diz
o art. 58 do CTB que o ciclista tem preferência sobre os veículos, mas
quantos ciclistas são ameaçados todo dia por condutores de veículos,
infração gravíssima ao art. 170?
A
prefeitura está começando em breve uma campanha que pede a cada usuário
da via que faça a sua parte, respeite as leis de trânsito e não provoque
acidentes. Mas, as ações têm de ser sistêmicas e contextualizadas.
Começa pela mudança de mentalidade de pedestres que atravessam fora da
faixa para ganhar tempo, de motoristas que abusam da velocidade em uma
via em que não se deve passar dos 50km/h, de motociclistas que trafegam
no corredor e pela contramão. Mas, também, pela mudança de mentalidade
em relação aos ciclistas.
Temos
uma frota que já passa de 235 mil veículos; 1,2 mil emplacamentos novos
ao mês e cerca de 400 novos condutores habilitados a cada 30 dias.
Mesmo que todo mundo ande bonitinho respeitando o outro no trânsito, vai
chegar uma hora em que não vai ter mais ruas para tantos carros. E já
estamos sentindo isso na pele.
Já
passou da hora de se (re)pensar a mobilidade humana no trânsito, de se
buscar uma cidade para as pessoas e não para os motorizados, bem como de
se repensar o tempo de travessia em semáforos e a redução da velocidade
em algumas ruas.
A
Semana Nacional do Trânsito vem aí com o tema Proteção ao Pedestre e
estamos fazendo muito pouco. O que teremos para apresentar além de
festejos-relâmpago que morrem em uma semana de setembro?
Enquanto
isso, vou contribuindo como posso e indicar os locais em que o risco de
acidente é maior na João Pessoa (dos 607 acidentes no Bairro da Velha,
131 foram nesta rua) já é um bom começo. Muitos autocuidados e salve-se
quem puder!