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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

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Comportamento - A Morte da Televisão

Por Rafael Alexander Marghotti

Imagem: Divulgação
No dia 14 de janeiro de 1990, estreava na TV americana o segundo episódio da primeira temporada de “Os Simpsons”, o primeiro a ter a clássica sequência de abertura e que terminava com a famosa cena do sofá, quando toda a família corria para casa e se reunia no sofá da sala para assistir televisão. Abertura que vinha totalmente ao encontro da crítica à classe média americana que o programa fazia, retratando a televisão como um instrumento de alienação, utilizada pelo governo e pelas corporações para dominar as massas. Hoje, 25 temporadas depois, a cena do sofá continua presente na maioria das aberturas da série, apesar de terem tirado a antena VHF interna e colocado uma TV HD na sala, será que a crítica social continua válida? Alguém conhece alguma família nuclear de classe média que chega em casa e se reúne na frente da TV?


Imagem: Divulgação
Nelson Rodrigues disse que a televisão matou a janela, bem, lamento informar, mas alguém matou a televisão. Alguém? Ou será que foi suicídio? Não um suicídio consciente, mas algo como aquele fumante que sabe que o cigarro está lhe matando lentamente e não faz nada para impedir, ou como aquela velha empresa familiar que há 30 anos faz os negócios da mesma maneira e não vê motivos para mudar agora. Então foi arrogância? Quem sabe. O fato é que quando se está no poder a tanto tempo ocorre uma perda de contato com a base, é como uma ditadura que não prevê a chegada de uma revolução. Mas e a internet, ela não é responsável pelo declínio das corporações de TV aberta? Talvez essa seja a causa terminal, como num atestado de óbito, em que a causa terminal pode ser um choque traumático, que teve como causa intermediária fraturas múltiplas e como causa básica o atropelamento por um caminhão. É como se as corporações televisivas fossem Hitler em seu bunker pronto para tomar o cianeto, enquanto a internet seria cada soldado aliado ocupando Berlin, então, quem matou Hitler, o cianeto, os aliados, ou sua arrogância?


Os Sintomas

A crítica feita pela série “Os Simpsons” não podia representar melhor a sociedade dos anos 1990, o auge da televisão, época que, quando passava “Karatê Kid” na Tela Quente, no outro dia todos os garotos do colégio estavam tentando fazer o golpe da garça, tempos em que toda segunda-feira o assunto no colégio ou no escritório era a reportagem que o Fantástico fez sobre dinossauros ou alienígenas. Alguém conhece alguma criança em idade escolar que ainda assiste o Fantástico? E se você ainda acha que estou sendo muito radical, vou utilizar um exemplo bem recente: Há algumas semanas uma jornalista do SBT gerou furor nas mídias sociais com um comentário sobre um menor infrator que fora preso e espancado por populares, não entrarei no mérito da questão, mas esse fato só tomou notoriedade por causa da internet, alguém postou o vídeo no youtube e depois você o viu na timeline do facebook, porque ninguém assiste aos jornais do SBT, então tudo que eles conseguem gerar é polemica, não mais influência ou manipulação.

Imagem: http://sandrodb.wordpress.com
Ah, mas os canais de TV continuam aí, então como você afirma que a televisão morreu quando milhares de pessoas assistem ao Big Brother e a audiência da novela é altíssima? A televisão não morreu e nem morrerá, a maneira como você a conhece que sim, assim como antes de matar a janela a televisão já havia matado o rádio e o rádio continua por aí, apenas mais segmentado, uma mídia de nicho. A própria Rede Globo (fonte) define o público da novela como predominantemente feminino (65%) e da classe C (50%), além do que, se analisarmos o gráfico abaixo, veremos que a audiência da novela vem caindo significativamente.

Imagem: http://atributo.com.br
Apesar da audiência da televisão estar caindo e cada vez mais segmentada ela ainda é muito alta, certo? Será mesmo? Eis que chegamos em outro ponto crucial: A falácia da audiência. Você sabe como é medida a audiência das emissoras de TV, o popular Ibope? Certamente é muito mais por estimativa do que os views do youtube (veja matéria sobre como é medida a audiência da televisão no Brasil), ou seja, os pontos de audiência são superestimados pelas emissoras, está aí um dos fatores que compõem a arrogância já mencionada. Se perguntarmos ao humorista Fábio Porchat, por exemplo, se ele é mais reconhecido ou parado na rua pelos vídeos do canal "Porta dos Fundos" ou pelos seus trabalhos na Rede Globo, qual seria a resposta dele? Ainda não convencido? Vamos perguntar aos universitários, ou melhor, aos publicitários. Segundo estimativas, o investimento em publicidade digital superará os investimentos em televisão já em 2016 (veja o gráfico ao lado), isso que a televisão ainda mantém a arrogância de ter preços altíssimos, pois o volume de anúncios na internet já é muito maior, não há hoje campanha publicitária que se preze sem o mínimo de investimento em internet e mídias sociais.

A Causa Básica da Morte

Um dos grandes trunfos da televisão foi controlar a ansiedade do telespectador com datas de estreia, programas que cortam no momento mais importante e só mostram a resolução no próximo capítulo, etc., se deu certo no passado dará certo sempre, certo? O novo consumidor não tem tempo, paciência ou simplesmente não consegue sentar a frente da TV sempre no mesmo horário para ver seu programa favorito, ele precisa de flexibilidade, ele quer assistir o que quiser na hora que quiser. Um bom exemplo disso são serviços como o Netflix, que disponibiliza o conteúdo online para ser assistido a qualquer momento pelo usuário, além disso, lançaram todos os episódios da sua série original "House of Cards" no mesmo dia, você não precisa mais esperar até a semana seguinte para assistir ao próximo capítulo. Isso mostra como a arrogância das corporações televisivas as mantém engessadas e impedem que se adaptem aos novos tempos. Mesma arrogância que lhes faz acreditar que ainda são donos do monopólio da informação, como nas manifestações ocorridas no Brasil em 2013, enquanto as emissoras de TV, no uso de seu suposto poder de manipulação, tentavam a todo custo mostrar apenas os atos de vandalismo de uma parcela de pessoas e reduzir o significado das manifestações, as notícias sobre violência policial e como o movimento ganhava força pelo país chegava às pessoas por meio de outras formas de comunicação e apenas enfraqueciam as imagens das emissoras de TV.

Charles Darwin já dizia que evolução não é sinônimo de progresso, apenas a sobrevivência do mais apto, portanto, esclareço que não estou dizendo que a manipulação das massas acabou com fim da televisão e ascensão da internet e mídias sociais, afinal, a massa é ignorante, mas apenas não gosta de ser tratada como ignorante, como a televisão vem fazendo. Queremos ser manipulados, apenas não queremos parecer bobos. Trata-se apenas de uma mudança de hábitos, que grandes corporações engessadas não conseguiram perceber a tempo. Afinal, se nos dias de hoje a família Simpson não se reuniria na frente do sofá para assistir TV, talvez Bart  fosse direto para o quarto jogar Playstation ou acessar o xvideos, enquanto Marge tiraria alguns selfies, de lado, no espelho da academia, fazendo um belo de um duck face para postar no facebook e instagram com as hashtags #love, #cute e #fitness, neste momento, Lisa estaria xingando muito no twitter sobre o aquecimento global e escrevendo sobre vegetarianismo para seu blog, Maggie se divertiria sozinha com um tablet na mão, afinal ninguém dá atenção para ela mesmo, enquanto Homer, bem, ele provavelmente seria aquela pessoa que continua assistindo o Big Brother, porque para sair da frente da televisão ele teria que levantar do sofá.

Imagem: Divulgação