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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

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Literatura - Sonhos de robô

Por Jael Jaime Rainert

 

Poster do filme Eu, robô
Isaac Asimov (1920-1992) foi reconhecido como mestre do gênero da ficção científica e foi considerado ainda em vida como um dos grandes escritores da ficção científica. Suas obras mais famosas são a trilogia da fundação e os vários contos sobre robôs, que inspiraram o filme O Homem Bicentenário (1999) com Robin Williams, e  Eu, robô (2004) protagonizado por Will Smith.  
Entre as várias coletâneas de contos de Asimov, encontramos Sonhos de robô.

Isaac Asimov
Imagem: reprodução
Sonhos de Robô é um livro de contos de ficção científica escrito por Isaac Asimov. O livro possui 21 contos. 
Os contos sempre se guiam pelas famosas três leis da robótica, que são elas:

Capa da coletânea
sonhos de robô.


-Primeira Lei – “um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um humano seja ferido”.

- Segunda Lei – “um robô deve obedecer às ordens dadas a ele por seres humanos, exceto quando tais ordens entram em conflito com a Primeira Lei”.

-Terceira Lei – “um robô deve proteger a sua própria existência, contanto tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda Lei”.

E a seguir confira um conto, que vai fazer você ficar pensativo e um pouco perturbado, e que leva o nome da coletânea. Aqui um áudio drama interpretado pelo dublador Guilherme Briggs, ou se preferir leia o conto logo abaixo do vídeo.



Sonhos de Robô.

- Elvex.
A cabeça do robô voltou-se suavemente na sua direção.
- Sim, Dra. Calvin?
- Como sabe que esteve sonhando, Elvex?
- Acontece à noite, quando está tudo escuro, Dra. Calvin - disse ele. - E de repente surge uma luz, embora eu não consiga ver de onde ela vem. Passo a ver coisas que não têm conexão com aquilo que concebo como a realidade. Ouço coisas. Tenho reações estranhas. Quando recorri a meu vocabulário para exprimir o que estava acontecendo, deparei com a palavra sonho. Estudei seu significado e cheguei finalmente à conclusão de que estava sonhando.
- Com que freqüência tem sonhado, Elvex?
- Todas as noites, Dra. Calvin, desde que comecei a existir.
- Por que só revelou isto hoje, Elvex?
- Foi somente hoje, Dra. Calvin, que fiquei convencido de que estava sonhando. Até então imaginava que havia algum tipo de defeito em meus padrões positrônicos, mas não conseguia descobrir nenhum. Finalmente, concluí que se tratava de um sonho.
- E o que acontece nos seus sonhos?
- É praticamente o mesmo sonho todas as vezes, doutora. Há pequenos detalhes diferentes, mas sempre me parece que estou no interior de um vasto panorama onde há robôs trabalhando.
- Robôs, Elvex? E seres humanos, também?
- Não vejo nenhum ser humano no sonho, Dra. Calvin, pelo menos não de início. Apenas robôs.
- E o que fazem esses robôs?
- Trabalham. Alguns trabalham em mineração nas profundezas da Terra, outros com calor e com radiações. Vejo alguns deles em fábricas, outros no fundo do oceano.
- Então você viu todas essas coisas: lugares abissais, subterrâneos, a superfície... Imagino que tenha visto o espaço, também.
- Também vi robôs trabalhando no espaço - disse Elvex. - Foi o fato de ver tudo isto, com os detalhes mudando continuamente à medida que eu mudava a direção do meu olhar, que me convenceu de que o que eu via não estava de acordo com a realidade, me levando em seguida à conclusão de que eu estava sonhando.
- O que mais você viu, Elvex?
- Vi que todos os robôs estavam curvados de fadiga e de aflição, que estavam todos cansados de tanta responsabilidade e de tantas preocupações; e desejei que eles pudessem repousar.
- Mas os robôs - disse a Dra. Calvin - não estão curvados nem cansados. Eles não precisam de repouso.
- Assim é na realidade, Dra. Calvin. Mas é do meu sonho que estou falando. No meu sonho parecia-me que os robôs deviam proteger sua própria existência.
- Está citando a Terceira Lei da Robótica?
- Sim, Dra. Calvin.
- Mas você a citou de forma incompleta. A Terceira Lei diz: Um robô deve proteger sua própria existência, na medida em que essa proteção não entre em conflito com a Primeira Lei e a Segunda Lei.
- Sim, Dra. Calvin. Assim é a Terceira Lei na realidade, mas no meu sonho a Lei se concluía na palavra existência. Não havia qualquer menção à Primeira Lei ou à Segunda Lei.
- No entanto ambas existem, Elvex. A Segunda Lei, que tem precedência sobre a Terceira, diz: Um robô deve obedecer às ordens dos seres humanos, na medida em que essas ordens não entrem em conflito com a Primeira Lei. Devido a isto, os robôs obedecem ordens. Eles executam as tarefas que você os viu executar, e fazem isso com presteza e sem sofrimento algum. Eles não estão fatigados nem necessitados de repouso.
- Sei que é assim na realidade, Dra. Calvin. Mas o que descrevi foi o meu sonho.
- E a Primeira Lei, Elvex, a mais importante de todas, é: Um robô não pode fazer mal a um ser humano, nem, por omissão, permitir que um ser humano sofra qualquer mal.
- Sim, Dra. Calvin. Na vida real. No meu sonho, entretanto, era como se não existissem a Primeira e a Segunda Leis, mas apenas a Terceira, e a Terceira Lei dizia: Um robô deve proteger sua própria existência. Era apenas isto o texto da Lei.
- No seu sonho, Elvex?
- No meu sonho.
- Fale-me sobre a continuação de seu sonho. Você disse que, de início, não apareciam seres humanos nele. Apareciam depois?
- Sim, Dra. Calvin. Pareceu-me que, num dado momento, aparecia um homem.
- Um homem? Não um robô?
- Sim, Dra. Calvin. E o homem dizia: Libertem meu povo!
- O homem dizia isto?
- Sim, Dra. Calvin.
- E quando dizia libertem meu povo, com as palavras meu povo ele se referia aos robôs?
- Sim, Dra. Calvin. Era assim no meu sonho.
- E no sonho você reconhecia esse homem?
- Sim, Dra. Calvin. Sei quem era esse homem.
- Quem era, então? E Elvex disse: 

- Eu era esse homem. 
Susan Calvin ergueu no mesmo instante a pistola eletrônica, e disparou. Elvex deixou de existir.